terça-feira, 15 de março de 2011

A anestesia em cirurgias de obesidade

Com a polêmica sobre a proibição da venda de inibidores de apetite, o número de cirurgias bariátricas pode aumentar; saiba os cuidados e riscos da anestesia para estas intervenções


A proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de proibir a venda de remédios emagrecedores do mercado brasileiro vem sendo bastante discutida nos últimos dias. De um lado, estão os riscos provocados pela automedicação e exageros no consumo deste tipo de medicamento; de outro, a necessidade de alguns pacientes que sofrem com a obesidade.
 Com a possível suspensão destes remédios, médicos prevêem maior dificuldade para o tratamento da obesidade e consequente aumento no número de cirurgias bariátricas.
 De acordo com o dr. Fernando Antonio Martins, diretor da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo (SAESP), um dos principais pontos destas cirurgias é a segurança no ato anestésico. “Em algumas situações, a cirurgia bariátrica é acompanhada de anestesia peridural ou raquidiana associada à anestesia geral. As primeiras permitem um consumo menor de anestésicos gerais no intra-operatório e uma boa analgesia no pós, permitindo recuperação mais rápida”.
  O tipo de anestesia, no entanto, é escolhido após criteriosa avaliação do paciente, sempre visando a redução de riscos de intercorrências durante o procedimento. Para isso, são considerados especialmente o estado geral de saúde do paciente e histórico familiar.
 Este tipo de bloqueio, no entanto, apresenta alguns pontos a ser avaliados. “A administração de doses um pouco mais elevadas de analgésicos do tipo opióide, como a morfina, pode levar a dificuldade respiratória”, explica o médico anestesiologista.
 “Por este motivo, parte dos anestesiologistas acaba optando pela anestesia geral associada à administração de medicamentos diretamente na corrente sanguínea”.

Intercorrências

Algumas particularidades são frequentes em pacientes obesos e requerem atenção especial na escolha do anestésico e também no monitoramento destes pacientes durante a anestesia. “Doenças associadas à obesidade, como hipertensão arterial, alterações cardíacas, diabetes e síndrome da apneia do sono são frequentes nestes casos”.
 A apneia, por exemplo, requer cuidado ao fazer analgesia com opióides. “O risco de apneia está presente em 70% a 80% dos casos, por conta dos fármacos que levam à depressão respiratória. Sem a devida atenção, podem resultar em quadros graves de insuficiência respiratória”, adverte.

Segurança

Para ampliar ao máximo a segurança do ato anestésico, é necessária vigilância constante do paciente por profissional habilitado a aplicar uma anestesia, isto é, por profissional que tenha, além da formação médica, especialização em anestesiologia e experiência na área.
 Protocolos da literatura mundial recomendam acompanhamento em UTI pelo menos nas primeiras 24 horas após a cirurgia bariátrica. Caso haja intercorrências durante a operação, medicamentos reversores dos efeitos de opióides devem ser aplicados, sempre sob monitoração intensiva.
 Outro fator imprescindível é a consulta pré-anestésica, realizada pelo médico anestesiologista, que permite ao especialista tomar conhecimento de todas as condições de saúde do paciente.
 “Infelizmente, a maioria dos convênios não valoriza esta etapa, que não é remunerada. É um absurdo, pois é o único momento em que podemos orientar o paciente em relação a exames importantes para o diagnóstico de comorbidades e obter todas as informações necessárias”, afirma.
 Segundo o especialista, o paciente deve estar consciente da importância desta consulta e cobrá-la de sua seguradora de saúde.

Deveres do médico e do paciente

Algumas informações fundamentais devem ser fornecidas pelo paciente no encontro pré-anestésico, como patologias antigas e atuais; medicações das quais faz uso; tempo em jejum; cirurgias e anestesias recentes, além de possíveis intercorrências; histórico familiar em relação a procedimentos cirúrgicos; alergias a medicamentos, alimentos e cosméticos, que por vezes podem provocar reações aos anestésicos, etc.
O uso de álcool, drogas e outras substâncias também é de suma importância, e devem ser reveladas ao médico sem receio.
“Todo conforto, segurança e bem-estar do paciente é contemplado pelo anestesiologista antes, durante e após o procedimento cirúrgico. Mas tudo isso depende também da participação do paciente”, finaliza dr. Fernando.



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